VOZES FEMININAS

segunda-feira, 20 de março de 2017

AS POLÍTICAS HIGIENISTAS NA EDUCAÇÃO


A PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO NO INICIO DO SÉCULO XX




 Este estudo nos remete a época histórica em que a psicologia entre com o recurso de teste de inteligência  no cotidiano da escola com influencia de políticas higienistas. A influência de políticas higienistas teve início, no Brasil, no fim do século XIX e início do XX, visto que este tinha como objetivo uma modificação no comportamento da população brasileira.  Quando esta corrente filosófica falava em intervenção da educação e da saúde, queriam um povo mais saudável e uma educação democratizada. No Brasil na década de 20 surge um novo ângulo para pensar o país a partir da crise oligárquica e da decepção quanto à possibilidade da República realizar o ideal de uma sociedade nova.  Neste momento inauguram a gênese do Brasil Moderno e introduzem procedimentos, hábitos, visões, questionamentos inéditos, que mobilizam várias gerações, trazem à tona novos atores e a problemática dos direitos e da participação social. Nesse momento, no sistema de ensino, diversas correntes pedagógicas estavam latentes, havia influencia de  diversos pensadores, rumo a escola novista, um dos grandes influenciadores foi John Dewey,no Brasil ocorrendo manifestos que  expunham  suas  teses. Em fevereiro de 1932, Lourenço Filho, ao prefaciar o livro A Escola e a Formação da Mentalidade Popular no Brasil de Estevão Pinto, professor da Escola Normal de Pernambuco, enfatiza a proposta de Dewey para a pedagogia ativa da “educação pela ação”. Com uma grande diversidade de novas práticas e ideias pedagógicas buscando a efetivação da escola nova, e a força da políticas higienistas  a educação acolheu iniciativas favoráveis à utilização de testes mentais nas escolas. O teste mais relevante naquele momento era o de Binet-Terman, que media o nível de inteligência intelectual do aluno. Os testes eram importantes para criar uma escala de nível mental que auxiliaria na seleção dos alunos de diversas idades, servindo para a formação de classes homogêneas do ponto de vista intelectual, pois não seria possível submeter ao mesmo plano de aula alunos de capacidade mental diversa. Vamos partir da citação abaixo para perceber melhor a questão histórica na filosofia higienistas.

A higiene, de maneira geral, entendia que a desorganização social e o mau funcionamento da sociedade eram as causas das doenças, cabendo à Medicina refletir e atuar sobre seus componentes naturais, urbanísticos e institucionais, visando neutralizar todo perigo possível. Tornou-se “ciência social”, integrando a Estatística, a Geografia, a Demografia, a Topografia; tornou-se instrumento de planejamento urbano: as grandes transformações na cidade foram, desde então, justificadas como questão de saúde; tornou-se analista das instituições; transformou o hospital em “máquina de curar”; criou o hospício como enclausuramento disciplinar do doente mental; inaugurou o espaço da hegemonia da clínica, condenando formas alternativas de cura; ofereceu um modelo de transformação à prisão e de formação à escola. Iniciou, enfim, a trabalhosa conquista profissional, técnica, exclusiva do poder da cura e do controle sobre a doença, rotulando as eventuais resistências e os saberes alternativos de cegueira política, ignorância do povo, má-fé dos charlatães (Costa, s/d, p. 10-11).

 A citação nos mostra o sentimento  de forma geral, nas reformas da década de 1920, o aporte psicológico está presente nos fundamentos teóricos com forte influência da concepção funcionalista de adaptação e ajustamento do comportamento humano e cognição com função prática e utilitária; na concepção de infância, com destaque para a psicologia do desenvolvimento, psicologia do ato, testes de maturidade, psicologia das diferenças e orientação vocacional; na natureza do currículo; nas técnicas de ensino, com ênfase na escola ativa, integral, focada no trabalho e no meio social produtivo, portanto, a escola, sendo um  ambiente de ensino e também da higiene, deveria estar orientada para a defesa social contra as patologias, a pobreza e o vício. Os educadores eram, desta forma, iniciados na ciência da Psicologia. “Escolas de Aperfeiçoamento” ofereciam cursos de Psicologia para aperfeiçoamento de professoras primárias nos quais se obtinham noções de Psicologia Experimental e de Psicologia da Criança, e faziam pesquisas de campo com os alunos das escolas primárias para conhecerem as condições psíquicas das classes dentro de uma escola. Terminando o curso, recebiam a denominação de “pedagogo especialista”. Os higienistas queriam mostrar o quanto à escola poderia contribuir para a profilaxia da higiene mental, começando a preparar os professores para um novo sistema educacional que estabelecia a Psicologia como base de ação. Os processos pedagógicos não serviam mais só para transmitir informações, mas tinham, também, o propósito de formar pessoas que vivessem bem socialmente. Na escola se deveriam formar homens, orientando-os para uma profissão adequada, sem vícios e sem patologias mentais, para que pudessem viver em equilíbrio psíquico no meio social. O aluno era o objeto por excelência da higiene mental, sendo que na fase pré-escolar seria mais fácil os professores passarem hábitos sadios a eles. Além disso, a escola era considerada um lugar onde se encontra todo tipo de anormalidade, como os “alunos-problemas", os “alunos com dificuldade de aprendizagem”, os “alunos lerdinhos”. Na fase pré-escolar o aluno estava formando sua personalidade, e qualquer desvio nessa fase o tornaria um adulto inabilitado socialmente. Cabia ao educador ter noção de que a educação não era mais só um processo de transmitir conhecimento ao aluno. Educar era formar cidadãos sadios para o país, já que um indivíduo integrado pela educação racional nas suas correlações vitais com o meio, torna-se um ser social capaz (...) contribuinte ao patrimônio da raça humana “(Braga, 1931, p. 15-16).
Podemos observar que essas reformas de ideais e metodologias trilhava para alterar as posturas do educador, a natureza do currículo, a noção de aprendizagem, os métodos e técnicas de ensinar-aprender; enfim, procura-se reconstruir todo o aspecto interno das instituições escolares.
 Antunes (2005) destaca a organização do trabalho e o atendimento clínico nos Serviços de Orientação Infantil. Junto ao ideal de escola nova, as teorias e técnicas da Psicologia, de forma articulada às demandas do entusiasmo pela escolarização e ao projeto de modernização do país, desenvolvem-se no campo educativo na forma de técnicas que instrumentalizam a prática pedagógica, enfatizando o indivíduo e as diferenças individuais, a mensuração e quantificação, a avaliação e seleção, a modelação do comportamento e vinculação estreita com o mundo do trabalho. “O tripé Educação-Trabalho-Psicologia fazia-se necessário para o processo de industrialização massiva que se planejava para a sociedade brasileira” (ANTUNES, 2005, p. 67).
Os ideais da psicologia na época era de oferecer subsídios para que o individuo ampliasse suas capacidades, nesse sentido os testes tinham uma vertente positiva, mas em contraponto havia questões classificatórias que podia trazer rótulos, mais uma questão para a Educação e Psicologia atuarem em conjunto para buscar novos caminhos.



Referências bibliográficas

ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. A psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. 4ª ed. São Paulo: Unimarco Editora/Educ, 2005

Braga, E. (1931). Os elementos psicho-sociológicos nos programas de ensino. ABHM, Rio de Janeiro, 4(1), 3-16.

Costa, N. R. (s/d). Estado, educação e saúde: a higiene da vida cotidiana. Cadernos Cedes, São Paulo: Cortez, 4, 5-27.

HEIN, Ana Catarina Angeloni (org.) História e Educação: diálogo político, econômico, social, cultural e epistemológico. Pearson Education do Brasil,,2014
        



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