O
que carregavam as normalistas? O que carregamos hoje?
Já
ouvi dizer que para reconhecer um professor dentre a multidão, existem dicas
bem interessantes. Separei duas delas que são bem contundentes ao meu ver.
Primeira dica observe as pessoas que portam junto com suas bolsas sacola
também, segunda, observe mais atentamente as que portarem mais de uma sacola ou
além da bolsa e da sacola também acomodar entre os braços pastas, livros e
cadernos, existe grande probabilidade dessa pessoa ser um professor. Ah! Como
gostamos de sacolas! Será que somos muito apegados ao conhecimento e por isso
fazemos questão de carregá-lo bem de pertinho? Ou, como nosso tempo é atrelado
ao cronômetro aproveitamos o caótico transito das grandes cidades para agilizar
uma leitura ou tarefa? Acredito que seja por essas duas possibilidades concomitantemente.
Em determinados momentos presenciei no transportes públicos, uma professora
corrigindo avaliações, outra fazendo recorte e eu como curiosa que sou,
espichei um pouco meus olhos e pude ver um plano de aula sobre a planificação
de um cubo, ficando fácil percebê-lo no recorte.
Hoje
já estamos mais “moderninhas”, pois a mais ou menos dois anos atrás uma
professora chegou chateada na escola relatando o furto de seu notbook, o qual
sempre carregava em uma sacola utilizando-o no percurso da escola dentro do
transporte público. Seu lamento maior era que nele estava o portifólio de seus
alunos.
Incrementamos
nossas sacolas com novos recursos tecnológicos, mas ainda continuamos carregando
sacolas fisicamente reais e outras tantas que não são fisicamente palpáveis,
mas que demanda uma boa carga energética. Vamos pegar uma delas? Escolhi a
sacola que carrega as questões históricas de nossa profissão, mas antes de
olhar seu conteúdo e já que entramos em fatos históricos. Vamos fazer uma
pequena observação. Em determinadas mudanças de comportamento humano ou novo
ciclo, surgem palavras ou frases chavões. Destaco nessa ultima década a palavra
multifuncional, pois tem um grande
apelo social para a conquista de sucesso e lucratividade e se apresenta
carregada de armadilhas sedutórias por de trás de suas letras, pois há de ter
muita vitalidade para superar e satisfazer uma sociedade volátil.
O
artigo “ As sereias do mundo eletrônico” de Paulo Blikstein e Marcelo Zuffo-2001 (http://www.blikstein.com/paulo/documents/books/BliksteinZuffo-MermaidsOfE-Teaching-OnlineEducation.pdf), fala das armadilhas da funcionalidade e seus meandros
dentro da instituição educacional. Falando em nossa instituição, voltemos a
nossa sacola histórica. Viajei até o inicio da minha vida acadêmica
deparando-me com uma ação muito comum das professoras na época. Era rotineiro
que elas realizassem “inspeções higiênicas”, verificando as madeixas para
prevenção e controle de piolhos, limpeza das unhas, orelhas e afins. Não estou
falando de um passado muito distante, apenas de quatro décadas na qual a
formação das professoras se dava através de um curso chamado de curso normal.
Fui alfabetizada pelas normalistas e dentre as funções do cargo essas
“inspeções” eram naturais dentro do regime que regulava o país na época.
Concluo
que, a multifuncionalidade na educação, deva ser tão antiga quanto a própria
profissão e cabe a nós professor de hoje fazermos uma “inspeção” em nossas
sacolas e de fato perceber o que pode estar excedente nessa bagagem.
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